sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

O Cristianismo: de Monoteísta a Politeísta


A Religião Cristã Primitiva é perfeitamente monoteísta, conforme o entendimento esotérico da Bíblia, dentro dos limites históricos da Tradução. Contudo, na época da institucionalização de sua "Eclésia" (i.e., comunidade cultural; termo que originou "Igreja"), sob os auspícios do Imperador Constantino, no séc. IV, o Cristianismo sofre grande influência do Zoroastrismo, religião persa bastante difundida em todo o Império Romano do Oriente, notadamente na Anatólia, local de fundação da primeira Igreja Cristã instituída por um Estado. O Cristianismo Primitivo, que nascera do sincretismo entre ritos e crenças dos judeus (notadamente essênios) com greco-romanos, passava agora por um novo sincretismo, com o Zoroastrismo, através do grande difusor e renovador dessar religião, o babilônico Mani ou Maniqueu (séc.III), cuja doutrina passaria a se chamar "maniqueísmo", expressão que viria a se tornar sinônimo de "dualidade" em sua expressão mais perfeita, de dois deuses completos em si mesmos e, ao mesmo tempo, antagônicos.
Dentre as bases do Zoroastrismo, destaca-se a idéia de que existem duas forças cósmicas antagônicas, o Bem e o Mal (Zoroastro e Zaqueu) e uma materialização do Deus criador (Zarastustra, Zarthost, filho imaculado de Zoroastro), sendo considerada a primeira religião dualista. Tal dualismo já se encontra no princípio de "dar e receber" do judaísmo, mas o princípio de "receber" ("Satan") só possui existência positiva no Zoroastrismo: essa existência positiva de uma essência negativa será cada vez mais integrada à religião Cristã Primitiva.
Enquanto nascia a Igreja Cristã (séc. IV), com a contenda entre a dualidade e a unicidade de Deus; transformando em heresia, primeiro, a dualidade divina de Homem x Deus dos arianos; depois, a unicidade do Deus-Homem dos monofisitas; a discussão sobre a dualidade Bem x Mal não chegou a preocupar os Sacerdotes da Igreja, mais preocupados em explicar Deus do que o Diabo; pois o mal era automaticamente associado ao antigo e pagão (rural, politeísta).
O Cristianismo Medieval, ao mesmo tempo em que consegue consagrar o Mal como um princípio positivo, cujo poder pode se igualar ao do Bem, traz a visão neoplatônica, pansemiótica e metafísica da realidade, mostrando que o livre-arbítrio pode sobrepujar o princípio cósmico do Mal. Para os cristãos heresiarcas do fim da Idade Média, tais como os chamados "fraticelli" e os "cátaros", o Monoteísmo puro volta a ter um significado prático, pois a existência do Mal (Satan), para eles, é negativa, isto é, simplesmente deixa de haver, conforme a vontade e a fé do devoto. (As novas revelações a respeito dos cátaros do sul da França demonstram que seu dualismo, por tantos anos interpretado como sendo antagônico e satanista pela Igreja Católica, era, na verdade, um dualismo baseado na relação de complementariedade, e não na de oposição). Essa tentativa de transformar o pensamento religioso cristão num Monoteísmo puro vem, até os dias atuais, "correndo por fora" do tradicional Dualismo Antagônico, posto que a maioria dos cristãos não consegue deixar de lado essa visão, mesmo acreditando também na Unicidade e/ou na Trindade divina.
Baseado nessa análise, arrisco concluir que a Religião Cristã Primitiva é puramente monoteísta. Já a Igreja Cristã, nasceu mais preocupada em discutir o Deus único do que a possibilidade da existência de outros deuses. Com isso, deixou que os cristãos se apegassem a um Dualismo exacerbado, que torna positiva uma essência cósmica aprioristicamente negativa (a satânica), criando grandes mistérios insondáveis, como o da "vontade divina", o da "predestinação", o do "pecado capital", etc. Vale lembrar que, em nenhum momento da Bíblia, Satã age por conta própria, sua única função é "tentar" o Homem a agir: o ator é sempre o homem. Logo, não adianta hesitar: o Dualismo Antagônico do cristianismo, na medida em que vê o Mal como potência tão positiva quanto o Bem, possui deuses, um voltado para o Bem (Deus) e outro para o Mal (Diabo); sendo, portanto, Politeísta. Há textos cristãos dos primórdios de inspiração mesma que as dos mestres inspiradores de Mani, monges zoroastras profundamente influenciados pelos primórdios do cristianismo. Todo o cristianismo primitivo estava povoado dessa religião que tomava nova e surpreendente força, o zoroastrismo, encontrando seu apogeu com Maniqueu e sua doutrina perfeitamente dualista, antagônica: mas, a meu ver, ainda assim, politeísta; só vindo o verdadeiro monoteísmo a ocorrer entre os reais e fiéis seguidores radicais de Krshna (Bhraman), Ganesh (Maha Kaya), Akhenaton (Aton/Atum), Zarthost (Zoroastro), Mosha (YHVH), Buddha (Nirvana), Lao Tse (Tao "Inominável"), Yeshua (o "Pai"), Pakal (Quetzalcóatl) e Mohammed (Allah). 

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